O final de semana de Páscoa em 2025 marcou o início da pior Bezinha da história. Com apenas 15 equipes participantes, e muitos clubes tradicionais tendo ficado fora do certame, a quinta divisão do futebol paulista iniciou com muitas incógnitas, parcerias mal explicadas entre clubes, e todos os participantes querendo uma das duas vagas do acesso, para tentar sair do limbo do futebol paulista.
Enquanto alguns tiveram mais sorte em Santa Bárbara d’ Oeste, acompanhando a vitória da União Barbarense por 4×0 sobre o Araçatuba, ou em Jundiaí, onde o Paulista venceu o Nacional da Barra Funda por 3×0, resultados que deram o acesso às duas tradicionais equipes ao terceiro nível do futebol estadual, eu estava em Mauá, pagando R$ 30 em um jogo de quinta divisão, para ver um Mauá x Manthiqueira, dois times que sinceramente não me empolgava nem um pouco e deixavam poucas esperanças de sucesso no torneio.
E o primeiro tempo foi um tradicional primeiro tempo de Bezinha. Horrível no quesito qualidade técnica, mas relativamente interessante no quesito entretenimento. Ao final do primeiro tempo, começou a chover, e quando já prevíamos o 0x0 conforme a chuva aumentava, uma vez que seria improvável que o gramado mantivesse condições favoráveis de jogo, o Manthiqueira fez 1×0 sobre o Mauá.
No intervalo a chuva apertou muito e fomos para o setor coberto do estádio Pedro Benedetti: uma parte com umas telhas mal colocadas pela prefeitura que deixava simplesmente metade do campo como ponto cego. E olha que ali era fácil fazer um trabalho bom, mas o que esperar de um estádio de quinta divisão?
O segundo tempo chegou a começar, mas bastou os jogadores começarem a se movimentar dentro do campo, e a grama virou lama. Para ajudar, a chuva apertou muito e com 11 minutos, o árbitro parou o jogo. O gramado realmente ficou impraticável. Mas depois dos trinta minutos regulamentares, apesar da chuva não ter diminuído, não ter qualquer expectativa de que isso fosse acontecer e do campo continuar muito ruim, o árbitro tentou recomeçar o jogo — e eu entendo ele, quem gostaria de perder um domingo de Páscoa inteiro para apitar um Mauá x Manthiqueira? Mas tão logo as equipes voltaram a campo, um raio caiu do estádio e ele teve que desistir e realmente suspender o jogo, uma vez que o estádio não possui iluminação, e com o relógio batendo 17h00, não havia condições de iluminação natural para o prosseguimento da partida, que continuaria no dia seguinte, às 15h00.
Sendo domingo de Páscoa, eu naturalmente não voltei ao estádio para assistir a continuação no dia seguinte, e acabei assistindo pelo YouTube. Onde aconteceu outra bizarrice. No sábado, o Mauá jogou com o uniforme azul e o Mathiqueira com o uniforme laranja. Como provavelmente o Manthiqueira não tinha uniformes reservas da cor laranja, no domingo a partida continuou com o Mauá de amarelo e o Manthiqueira de azul escuro. Contudo, um famoso narrador das divisões de acesso do futebol paulista, que não havia trabalhado nesse jogo no dia anterior, sabe-se lá por que, acabou confundindo as equipes. Quando o Mauá empatou o jogo, ele gritou a plenos pulmões: GOL DO MANTHIQUEIRA.
Com as pessoas reclamando no chat da transmissão, ele e o comentarista acabaram corrigindo o erro, tentando culpar a equipe que transmitiu a partida no dia anterior, por não ter deixado a ficha técnica. Mas foi só uma questão de falta de preparação mesmo. Afinal, o Manthiqueira é conhecido por ter se inspirado na Seleção da Holanda, que por sua vez tem o segundo uniforme, geralmente na cor azul escura. Já o Mauá é amarelo e preto, e nunca usaria o azul, cor do rival Mauaense. Mas ainda que houvesse uma possível confusão entre Mauá e Mauaense por parte da equipe de transmissão, o que já seria inaceitável, havia números gigantescos da cor laranja na camiseta azul do Manthiqueira. Se isso não bastasse, o zagueiro do Manthiqueira vestia a camisa 1, coisa tradicional por lá também, coisa que obviamente não acontece com o Mauá. E nas substituições, entraram jogadores no Mauá com numeração que eles mesmo afirmaram que não estavam entre os relacionados no Manthiqueira. Foi uma sequência de erros por um tempo considerável, que não foi percebido nem com o público avisando.
No final das contas, o Mauá virou o jogo no final e ganhou por 2×1.